Inimigo Íntimo

Existem alguns requisitos básicos para uma boa noite de sono: colchão e travesseiros confortáveis, ambiente com pouca ou nenhuma luz, temperatura agradável e... silêncio.

Muitas pessoas acreditam que mesmo com uma vizinhança barulhenta ainda dormem bem, mas a verdade é que nessas condições o sono não tem qualidade, pois a pessoa é exposta continuamente aos ruídos.

Que o diga Rute Gomez, esposa do contador Orlando Gomez. Desde a lua-de-mel, ela sofre com a “sinfonia noturna” do marido. Havia muitos anos que ela não sabia o que era uma noite de paz e descanso. O ronco do marido fazia Rute acordar diversas vezes durante a noite. “E não era só o ronco. Às vezes, ele ficava sem respirar por muito tempo, eu achava que alguma coisa deveria estar errada”, reconhece.

“Eu acordava várias vezes durante a noite, mas achava que era normal, que era apenas vontade de ir ao banheiro”, relata Orlando. O problema maior, porém, acontecia durante o dia, pois ele ficava muito sonolento e mal conseguia ficar acordado diante do computador, especialmente após o almoço. Ele se preocupava por não conseguir se dedicar o quanto queria ao trabalho. “Isso me deixava mal-humorado e irritado, apesar do meu jeito brincalhão”, comenta.

Apneia do sono:

O casal ainda não sabia, mas o contador gaúcho sofria de apneia do sono, doença que atinge de 5% a 9% da população adulta, sendo mais comum em homens que estão acima do peso e mulheres na menopausa. A pessoa com apneia do sono sofre com uma série de transtornos, como sonolência excessiva e cansaço durante o dia, irritabilidade, dores de cabeça pela manhã e até mesmo aumento de peso e problemas cardíacos. Mas quem dorme ao lado também acaba sofrendo as consequências.

Rute convenceu Orlando a procurar um médico depois de um final de semana que começou aparentemente normal. Após um almoço em família, Orlando fez a sesta, como era costume nos finais de semana. Quando acordou, foi até a cozinha, tomou um copo de suco e... apagou. Para Rute, foi a gota d’água. No dia seguinte, ela marcou uma série de exames para o marido, inclusive cardiológicos. Aconselhado por um otorrinolaringologista, Orlando procurou um profissional especialista em distúrbios do sono.

A primeira providência da neurofisiologista Olga Judith Hernandéz Fustes foi marcar uma polissonografia. “É um exame em que eletrodos monitoram e acompanham a qualidade do sono”, explica a médica, especialista em medicina do sono. O resultado já era previsível: “Além de roncar e de se debater a noite toda, ele ainda tinha bruxismo”, lembra a esposa.

Sono de qualidade:

O que Rute Gomez ainda não sabia é que sua saúde também sofria, e muito, com o problema do marido. Isso porque o “roncador passivo”, ou seja, a pessoa que dorme ao lado de alguém que ronca, sofre os mesmos danos que o roncador. “Além do mau-humor, da sonolência diurna e cansaço, ela poderia vir até mesmo a desenvolver problemas auditivos”, enumera a neurofisiologista.

“Eu estava muito mal, física e psicologicamente, mas achava que era algum problema comigo, alguma espécie de ansiedade ou estresse relacionado à minha rotina”, conta Rute, percebendo, hoje, que não é possível ser feliz quando o sono não tem qualidade.

Depois de ter o problema diagnosticado, Orlando não hesitou em buscar o tratamento e hoje já vê os resultados da intervenção da especialista. Para o caso dele, a recomendação foi o uso do CPAP, espécie de máscara que facilita a respiração e melhora o sono. “A reação foi imediata. Comecei a usar no final de semana e na segunda-feira já não tive sono durante o dia”, diz o contador, salientando que seu humor melhorou muito e a convivência familiar também. A esposa concorda: “Os homens em geral são resistentes a médicos e tratamentos, mas eu aconselho todas as mulheres a insistirem. Procurem um especialista para resolver os problemas de sono de seus maridos e perceberão que a vida vai ficar muito melhor”, acredita.

Reportagem Retirada da Revista Corpore de Junho de 2008.


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