A obesidade é um fator desencadeante de alguns distúrbios do sono; além disso, dormir mal também pode trazer alguns quilinhos.
O corpo humano é uma máquina impressionante, na qual todas as engrenagens estão interligadas. Se algum órgão, ou mesmo alguma de nossas funções não está se comportando da maneira como deveria, certamente haverá reflexos em nossa saúde como um todo. Para vivermos bem, tudo deve estar no mais perfeito equilíbrio. A obesidade, considerada atualmente uma verdadeira epidemia, é um dos fatores que mais afeta negativamente o organismo. Esses problemas podem se apresentar de várias formas diferentes. Pessoas obesas têm maiores riscos de sofrer com hipertensão, colesterol, diabetes tipo 2 e até mesmo alguns tipos de câncer. O que nem todos sabem é que a obesidade pode se tornar, também, extremamente prejudicial para o sono.
Pesquisas publicadas recentemente na revista Sleep e no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism trouxeram resultados preocupantes sobre a relação existente entre os distúrbios do sono, a obesidade e os níveis de leptina, uma substância química que tem a função de controlar a gordura corporal e reconhecer se a pessoa está alimentada. No primeiro estudo, os resultados indicaram que pessoas entre 27 e 34 anos que dormiam menos de 6 horas por dia se tornaram obesas. No segundo, percebeu-se que pessoas que dormiam pouco apresentavam níveis de leptina menores, o que aumentava a vontade de comer.
Isso significa que a relação entre obesidade e sono é recíproca. "Por um lado, temos pessoas obesas que desenvolvem algum distúrbio do sono em decorrência da obesidade. A apneia, em especial, é muito comum em obesos. Por outro lado, temos pessoas com peso dentro do normal que começam a engordar quando apresentam algum distúrbio do sono", esclarece a neurofisiologista Olga Judith Hernandez Fustes, especialista em distúrbios do sono.
Reciprocidade:
A relação que existe entre a obesidade e o surgimento de distúrbios do sono é facilmente compreensível. Quando dormimos, os músculos de todo o corpo relaxam, inclusive os da garganta. "Contudo, nas pessoas obesas, por possuírem mais gordura na região da garganta, esse detalhe faz com que o relaxamento dificulte ainda mais a passagem do ar, desencadeando a apneia, mais identificada pelo ronco", explica a especialista.
A apneia é um tipo de distúrbio que faz com que o indivíduo fique sem oxigênio durante o sono. Sem oxigênio, o coração acelera, a pressão sobe e a pessoa acaba despertando diversas vezes durante a noite, ainda que nem perceba. Mas, além de prejudicar uma noite de sono, a apneia pode trazer complicações ainda mais graves, como provocar um infarto ou Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Para um obeso, o primeiro passo na tentativa de melhorar os distúrbios do sono, principalmente no caso de quem sofre de apneia, é emagrecer e tomar alguns cuidados simples, conhecidos como higiene do sono. Esses cuidados incluem dormir em horários regulares, não ingerir cafeína ou alimentar-se antes de comer, entre outros. Procurar um médico é essencial: "toda pessoa obesa deve procurar um profissional especialista em sono para verificar se está tudo normal com seu repouso", explica Olga Fustes, umas das pioneiras no exame de polissonografia no Paraná.
Nem com regime:
Se a obesidade causa falta de sono, a falta de sono também pode levar à obesidade. A redução dos níveis de leptina no organismo, conforme comprovado por estudos, é um dos fatores que leva a pessoa que dorme mal a engordar, pois a produção dessa substância diminui em indivíduos que dormem mal, o que faz com que eles não se sintam saciados quando comem.
Mas ainda há mais: "as consequências de uma noite mal dormida vão além do cansaço do dia seguinte, podem causar problemas endócrinos e levar a pessoa a engordar ainda mais", comenta Olga Fustes, completando que a pessoa sente-se física e psiquicamente cansada para iniciar qualquer tipo de reeducação alimentar ou programa de atividade física.
Reportagem Retirada de Revista Corpore de Junho de 2008.
